domingo, 22 de janeiro de 2012

"SAIR DO VÍCIO É DIFÍCIL E CUSTA CARO"


LUTA CONTRA CRACK SAI POR ATÉ R$ 44 MIL AO MÊS.



Luta contra crack custa até R$ 44 mil

As opções são variadas e vendidas pela internet. No mercado das clínicas particulares, há modelos de tratamento que mais parecem um spa, com direito a bosque particular, piscina, quadra de tênis e até salão de beleza. A escolha, em muitos casos, não depende só da capacitação dos profissionais, mas de quanto se pode gastar por mês. Há quem pague até R$ 44 mil por mês por um quarto com frigobar e cama para acompanhante.
Assim como os itens de luxo, os modelos de tratamento também diferem de um endereço para o outro e criam polêmica entre as clínicas.
As instituições comandadas por ex-dependentes, geralmente em sítios com menor infraestrutura, são adeptas da chamada 'laborterapia'. Nela, o paciente ajuda até na limpeza do local.
'Ninguém faz faxina, mas cuida do seu quarto, lava a sua roupa. Isso ajuda a criar responsabilidade. E não é só isso. Aqui, o paciente tem uma rotina de atividades das 8h30 às 21 horas. Aos poucos, aceita o programa e evolui', diz Rogério Gomes, dono da Clínica Atibaia.
Vigilância. A instituição, com capacidade para cem pacientes, promove internações involuntárias 24 horas, ao custo médio de R$ 1,2 mil. A mensalidade custa R$ 3 mil. Nos próximos meses, o valor dará direito a uma espécie de 'big brother' online. O dia a dia dos pacientes, que já é filmado, será mostrado à família pela internet, com uma senha.
O atrativo digital é considerado supérfluo entre os pacientes da Maxwell, também em Atibaia. Lá, os parentes podem se 'hospedar' com o dependente. Além de piscina e salão de beleza, há salas de jogos, lanchonete e estúdio de ioga. Logo ganhará um campo de golfe.
'Aqui treinamos as pessoas para a vida. O luxo não pode ter conotação pejorativa. Oferecemos o que nossos pacientes têm lá fora. Não vou colocar ninguém para limpar o chão e fazer a cama. Temos camareiras para isso. Se punição resolvesse, os presidiários seriam santos. Nosso tratamento é médico, com acompanhamento 24 horas', diz o psiquiatra Sabino Ferreira Farias Neto, que fundou a instituição há 35 anos.
Na Maxwell, a punição é outra. Quem deixa de participar das reuniões obrigatórias, como a terapia em grupo matinal, perde regalias. Na prática, isso se traduz na proibição de ir ao salão de beleza ou de participar de saídas acompanhadas. A clínica ficou conhecida em 2000, depois que o cantor Rafael Ilha engoliu uma pilha, uma caneta e três isqueiros durante sua estada no local.
Portas abertas. Do acesso pela Rodovia Régis Bittencourt à entrada da Clínica Monte Rey, em Juquitiba, são 8 quilômetros de estrada de terra. No fim, um portão branco, sem cadeado. Entrar e sair da comunidade é opção do paciente, que lá não encontra luxo material, mas uma reserva natural, com bosque e represa. Pelo pacote, paga mensalidade de R$ 1,2 mil. 'Não aceitamos pacientes involuntários. Nem poderíamos, sem seguranças ou grades. Aqui é preciso aceitar o tratamento', diz o diretor Josino Cardoso Neto, que defende o modelo dos 12 passos, usado por grupos de alcoólicos anônimos (AAs).
Na comunidade, o atendimento médico só ocorre uma vez por semana, quando o psiquiatra visita os pacientes. Na última semana, mais de metade deles era usuária de crack. Índice semelhante ao encontrado pela reportagem na clínica Grand House, em Mairiporã, cujo público é formado essencialmente por jovens de classe média alta.
Em uma chácara adaptada apenas para homens, eles participam de rodas diárias de terapia, oficinas de arte e até aulas de surfe. 'São pacientes exigentes, com alto índice de escolaridade e poder aquisitivo. Pagam R$ 6 mil por mês e sabem reivindicar atendimento personalizado. É o que oferecemos, com 24 funcionários para 20 pacientes', diz Sérgio Castillo, biólogo e terapeuta.
Em comum a todas as clínicas, uma certeza: nenhum tratamento tem resultado garantido.
Escolha de clínicas não é feito apenas por seus profissionais, mas pelo quanto se pode pagar - nas de alto padrão, luxo inclui de serviço de beleza a campo de golfe.


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***FRANCIS DE MELLO***

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