Gestor da Delta chefiou empresa que foi alvo da PF.
Novo presidente da Delta Construções, Humberto Junqueira Farias ocupava cargo no alto escalão da Camargo Corrêa quando a empreiteira foi flagrada em 2009 na Operação Castelo de Areia, que detectou doações ilegais para políticos e supostos pagamentos de propina para agentes públicos. Segundo documentos da Polícia Federal, empresas do grupo fizeram pagamentos suspeitos durante a gestão de Farias. O engenheiro, no entanto, não é citado nos relatórios da operação, cujas provas foram anuladas em abril de 2011 pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
De acordo com as investigações, a Cavo Serviços e Meio Ambiente S/A (empresa que fez parte do grupo Camargo Corrêa), comandada entre 2000 e 2006 por Farias, aparece em uma tabela com obras e prováveis beneficiários de esquema de 'caixa 2', supostamente gerenciado pelos diretores da empreiteira.
Em 2005, a Polícia Federal localizou documentos manuscritos e arquivos que sugeriam o pagamento de valores pela Cavo. Um deles, de R$ 69 mil, estaria vinculado a fiscais de Curitiba. Há citações às operações da empresa em Rio Claro, São Paulo, Itu, Tatuapé, Recife e de contratos de lixo hospitalar.
Outro documento relaciona a Cavo ao suposto pagamento de R$ 450 mil, datado de 7 de abril de 2008. O valor estaria condicionado à 'aceitação de recurso especial pelo STJ' referente a julgamento do processo de improbidade administrativa contra a empresa em licitação de limpeza pública na cidade de São Paulo na gestão Celso Pitta (1997-2000). No entanto, não há informações detalhadas sobre o possível beneficiário do pagamento.
De acordo com a PF, a Camargo Corrêa mantinha uma espécie de 'caixa 2' mútuo entre as empresas do grupo.
A análise do material apreendido cita também a Camargo Corrêa Cimentos, braço da empreiteira comandada entre 2008 e 2010 por Farias. A PF afirma que a empresa utilizava um sistema sofisticado para remessas de dinheiro no exterior. Diretores da construtora operavam o esquema ao lado de um doleiro.
Pietro Giavina Biachi, ex-funcionário da Camargo Corrêa por mais de 40 anos e vice-presidente do grupo, é apontado na investigação como 'orquestrador' do esquema de pagamento de propinas, evasão de divisas e lavagem de dinheiro da Camargo.
O relatório final da Castelo de Areia, posteriormente invalidado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), aponta ainda que um documento referente à obra do Tucuruí cita como 'compromisso' o pagamento de R$ 500 mil ao nome de Luiz Antônio Pagot, ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), e ao PP. O material também trata de supostas doações ilícitas a partidos.
O ex-diretor do Dnit também é citado na Operação Monte Carlo, que trouxe à tona o esquema operado pelo contraventor Carlinhos Cachoeira e da Delta Construções, que são alvo de investigação na CPI do Cachoeira.
Negociação. Farias assume a Delta depois de uma polêmica negociação com a J&F Participações, holding que controla as empresas JBS Alimentos, Flora, Eldorado Brasil e banco Original. A empresa está envolvida no esquema de corrupção comandado por Cachoeira, segundo apontam as investigações da PF.
Alvo de uma CPI no Congresso e de investigações da Polícia Federal, a Delta ainda corre o risco de ser declarada inidônea pela União por conta de suspeita de fraudes nos contratos públicos.
Antes da Delta, o engenheiro civil ocupava o cargo de CEO da Renuka, empresa indiana do ramo de açúcar e álcool. O engenheiro, no entanto, fez carreira no grupo Camargo Corrêa. Foram mais de 15 anos.
A operação Castelo de Areia teve início em janeiro de 2008, após uma denúncia anônima. Quatro diretores e duas secretárias da Camargo Corrêa foram presos. A PF cumpriu 16 mandados de busca e encontrou uma lista de políticos supostamente beneficiados pela empreiteira. Entre as acusações da PF, estavam doação ilegal para partidos, lavagem de dinheiro e superfaturamento de obras públicas.
Defesa. Em nota, a J&F informou que a Operação Castelo de Areia não envolveu a Camargo Corrêa Cimentos, da qual Humberto era presidente na época. 'Portanto, ele não foi citado. A operação se restringiu à Camargo Corrêa Construtora', diz o texto, que ressalta ainda a anulação das provas pelo STJ. A Camargo Corrêa informou que não comentaria a reportagem.
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