CPI quebra sigilos de ex-diretor da Delta e convoca mais de 40.
Os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira aprovaram nesta quinta-feira as quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônico do ex-diretor da Delta Construções no Centro-Oeste Cláudio Abreu e dos principais auxiliares do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Além disso, a comissão convocará mais de 40 pessoas a depor.
Alguns deputados reclamaram que entre os convocados não estão diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Delta Engenharia. Carlinhos Cachoeira é dono de empresa do ramo farmacêutico e teria tentado corromper diretores da Anvisa para obter vantagens. Requerimentos sobre as convocações de diretores da Anvisa e da Delta ainda poderão ser votados hoje.
Segundo as investigações, o diretor da Construtora Cláudio Abreu era incumbido de tocar o braço da quadrilha de Cachoeira que se especializara em fazer contratos com governo. Abreu aparece em diálogos-chave do caso. Consta de uma conversa sua com Cachoeira a referência a um depósito de R$ 1 milhão para o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Foi com base nesse grampo que a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a quebra do sigilo bancário do senador.
É também Cláudio Abreu quem telefona a Cachoeira para dizer que iria "amarrar os bigodes" com os dois mais poderosos secretários do governador petista Agnelo Queiroz, Paulo Tadeu e Rafael Barbosa, em encontro em Brasília.
Cláudio Abreu está preso desde 25 de abril, em Brasília, suspeito de formação de quadrilha e corrupção. Ele foi detido durante a operação Saint-Michel, um desdobramento da operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que resultou na prisão de Cachoeira.
Os parlamentares também querem acesso a todas as movimentações financeiras e ligações do araponga Idalberto Matias de Araújo, um dos braços-direito de Cachoeira, além de Giovani Pereira da Silva e Gleyb Ferreira da Cruz, responsáveis pela contabilidade da quadrilha.
Em outro requerimento, foi aprovado um pedido de informações ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre movimentações atípicas dos membros da quadrilha de Cachoeira. Ontem, o senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP) afirmou que documentos da Receita Federal apontam gastos incompatíveis com a renda do bicheiro.
Pelos dados da Receita, Cachoeira informou ter recebido como renda anual em 2008 a quantia de R$ 20,4 mil, referentes a atividades empresariais. Esse montante é considerado incompatível com os gastos de R$ 589,2 mil registrados em cartões de crédito.
Cachoeira também informou à Receita ter recebido empréstimos da Bet Capital nos valores de R$ 2,8 milhões em 2008; R$ 4,3 milhões em 2009; e igualmente R$ 4,3 milhões em 2010. Ele detém praticamente 49% do capital da empresa. Uma fração próxima de 1% pertence a Lenine Souza. Os 51% restantes estão em nome de uma empresa de nome Bet Com, localizada na Coreia do Norte, país comunista onde não são admitidas, pelo menos oficialmente, empresas privadas.
Carlinhos Cachoeira
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
Com informações da Agência Câmara dos Deputados.
***FRANCIS DE MELLO***
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