Casos de pedofilia custaram US$ 2 bilhões à Igreja Católica.
Os dois especialistas detalharam que não é possível avaliar os danos causados nas vítimas, cujas vidas mudaram para sempre, e por isso analisaram apenas os prejuízos causados à Igreja por estes escândalos.
Esses US$ 2 bilhões foram pagos nos acordos estabelecidos durante os processos das vítimas contra as dioceses, em julgamentos, assessorias legais, tratamentos para as vítimas e acompanhamento dos agressores, entre outros gastos. Sobre as pessoas que sofreram abusos, Bemi e Neal destacaram que ainda não existe um estudo em nível mundial, mas que, só nos Estados Unidos, a estimativa é que 100 mil pessoas foram vítimas desses abusos. Esse número deve ser somado às centenas de casos denunciados na Irlanda, Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, Índia, Holanda, Filipinas e Suíça, entre outros países.
Bemi e Neal frisaram que os escândalos sexuais, além de custar uma quantidade de dinheiro que podia ser destinado à construção de hospitais, escolas, seminários e igrejas, causaram doenças e transtornos psíquicos, emocionais e sexuais às vítimas, assim como traumas nos familiares. E, além disso, dispararam as suspeitas em relação a todos os padres e aumentou o distanciamento dos laicos da Igreja. Os dois especialistas asseguraram que é preciso dissipar qualquer equívoco e reconhecer que os escândalos não foram exagerados pelos "meios de comunicação ateus" e que os crimes não têm nada a ver com a orientação sexual, "já que a realidade é que nem a homossexualidade nem a heterossexualidade são um fator de risco, e sim a orientação sexual desordenada ou confusa".
Também discursou o promotor do Vaticano, Charles Scicluna, que disse que é errado e injusto aplicar a "lei do silêncio" aos casos de pedofilia e que a Igreja tem a obrigação de cooperar com as autoridades civis. "É essencial essa cooperação. O abuso sexual a menores não é só um delito canônico, se trata também de um delito previsto no Direito Civil", destacou Scicluna. O prelado ressaltou que reconhecer e admitir a verdade absoluta "com todas as dolorosas repercussões e consequências" é o ponto de partida para uma cura autêntica, tanto das vítimas quanto do autor dos abusos. De acordo com o promotor, as vítimas precisam ser ouvidas com atenção e tratadas com dignidade quando embarcam na "esgotante" viagem da recuperação e da cura, e que por isso é necessária a ajuda de especialistas.
Scicluna acrescentou ser extremamente importante que o abusador admita seu pecado, seu crime e sua responsabilidade pelos danos causados às vítimas, à Igreja e à sociedade. O promotor se referiu às medidas adotadas por Bento XVI em 2010 contra a pedofilia, entre elas a ampliação de 10 para 20 anos do tempo para denunciar os abusos e a introdução do delito de aquisição, posse e difusão de pornografia infantil por parte dos clérigos. Scicluna destacou que no sacerdócio e na vida religiosa não há lugar para nada que prejudique os jovens e garantiu que nenhuma estratégia de prevenção de abusos por parte da Igreja irá funcionar se faltar credibilidade.
Do simpósio participam 110 representantes de conferências episcopais e 30 superiores religiosos, que realizaram hoje uma vigília penitencial na qual o cardeal Marc Oullet, prefeito da Congregação para os Bispos, pediu perdão a Deus e às vítimas pelos abusos sexuais cometidos por padres, que classificou como "fontes de vergonha e um escândalo enorme".
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***FRANCIS DE MELLO***
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