PSOL pede cassação de mandato no Conselho de Ética.
A situação do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) agravou-se ontem com a decisão do PSOL de pedir, no Conselho de Ética do Senado, a cassação de seu mandato por quebra de decoro. O parlamentar é acusado de envolvimento com o empresário do jogo Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
O PSOL alega que as denúncias, 'além de constituírem indícios da prática de atividades ilícitas', desprestigiam o Senado, 'em flagrante prejuízo da já péssima imagem do Poder Legislativo'. Se renunciar após a abertura de processo no conselho, Demóstenes seria enquadrado como ficha-suja.
O comando do colegiado é ocupado interinamente pelo vice-presidente, senador Jayme Campos (DEM-MT). Pelo regimento, na ausência do presidente, cabe aos membros escolher o substituto. Campos disse que não se sentirá constrangido se tiver de presidir processo. Responsável pela indicação de três titulares do conselho, o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), não quis dizer se o partido reivindicará o direito de eleger o novo presidente.
Constrangido, Demóstenes faltou à reunião da Comissão de Constituição e Justiça e às votações no plenário. Nos bastidores, colegas de partido admitem que as denúncias são graves.
Oficialmente, no entanto, ao contrário do PSOL, os demais parlamentares preferem conhecer o teor do inquérito da Operação Monte Carlo, que investigou as atividades chefiadas por Cachoeira em Goiás, antes de apoiarem a iniciativa de denunciar o colega no Conselho de Ética. Entre a oposição, há a expectativa de o inquérito mostrar também o envolvimento de parlamentares governistas no esquema.
A representação do PSOL relaciona as denúncias contra Demóstenes divulgadas na imprensa. A documentação inclui a notícia de que Demóstenes se comunicaria com Cachoeira por meio de aparelhos Nextel habilitados nos EUA para evitar grampos e a de que receberia 30% dos valores recebidos por Cachoeira na exploração do jogo ilegal e teria pedido um iPad ao contraventor.
Ao justificar o pedido de quebra de decoro, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) afirmou ter ouvido do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a informação de que há 'dados consistentes' para pedir ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito. 'Lamentavelmente, todas as informações já estão prestadas. O que nos resta é a formalidade do processo.'
Gravações ligam mais dinheiro a Demóstenes.
Novos grampos da Polícia Federal evidenciam ligações do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) com o grupo acusado de chefiar a máfia dos caça-níqueis em Goiás. O nome do parlamentar é citado em conversas gravadas durante a Operação Monte Carlo, nas quais o empresário de jogos de azar Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, se refere a quantias milionárias.
As gravações, reveladas ontem pelo Jornal Nacional, da TV Globo, seriam do início de 2011 e mostram Cachoeira, apontado pela PF como chefe da organização criminosa, conversando com dois integrantes do grupo sobre a contabilidade do esquema. Nas conversas, o contador Geovani Pereira da Silva, que seria o responsável pela administração financeira da quadrilha e está foragido, e Cláudio Dias de Abreu, apontado pela PF como sócio de Cachoeira em vários negócios, querem usar 'um milhão' para pagar contas. Numa das gravações, Cachoeira pergunta a Abreu quanto dinheiro reteve. Ouve a seguinte resposta: 'Um milhão do Demóstenes'. Referindo-se a Demóstenes, Cachoeira cita valores e calcula: 'Um milhão e quinhentos,mais seiscentos, que dariam dois e cem'. Ele cita mais um milhão, que Cachoeira diz ao sócio ter pedido para segurar. Ao fim, fecha a conta em 'três e cem'.
Cláudio discorda e, usando a expressão 'este do Demóstenes', diz que já tinha sido mostrado a ele e que Cachoeira vinha segurando (o dinheiro) desde que o senador ganhou a eleição. O nome do parlamentar aparece seis vezes nas conversas.
Os diálogos integram o material remetido pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ao Supremo Tribunal Federal, que decidirá sobre a abertura de inquérito para apurar o envolvimento do senador em crimes.
A Operação Monte Carlo, deflagrada em 29 de fevereiro, resultou na prisão de dezenas de pessoas, além de Cachoeira, por corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, evasão de divisas e violação de sigilo profissional, além da exploração de jogo de azar.
O Ministério Público Federal denunciou 81 pessoas à Justiça, entre elas os delegados federais Fernando Byron e Deuselino Valadares, acusados de receber propina para vazar dados de investigações ao grupo. Seis delegados da Polícia Civil de Goiás, 1 policial rodoviário federal e 27 policiais militares goianos também participariam do esquema.
***FRANCIS DE MELLO***
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