Erundina não traz votos, mas dá 'consistência', dizem analistas.
A deputada federal e ex-prefeita de SP deve ser anunciada como vice de Haddad nesta sexta-feira
Foto: Vagner Magalhães/Terra
Foto: Vagner Magalhães/Terra
Prestes a ser oficializada como vice na chapa do petista Fernando Haddad à prefeitura da capital paulista, a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) não deve agregar mais votos ao pré-candidato, mas traz "consistência" à chapa, analisam especialistas ouvidos pelo Terra. Na opinião dos cientistas políticos, a prefeita de São Paulo de 1989 a 1992 atinge um público que já votaria no PT de qualquer maneira.
Tanto não traz votos novos, que a adesão de Erundina à campanha petista, para o professor do Departamento de Política da PUC-SP Edison Nunes, "parece, de certa forma, mais um contracheque do que está acontecendo no Nordeste junto com o PSB do que uma razão endógena de São Paulo". No Recife, palco de uma disputa interna do PT, o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, decidiu lançar um candidato próprio, em vez de compor a chapa com a legenda aliada. Isso, no entanto, não afastou a sigla dos petistas na capital paulista.
"Ela não é evidentemente uma grande puxadora de votos", analisa o cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Francisco Fonseca, "mas acho que ela dá um sentido programático à candidatura do Haddad." Segundo ele, a paraibana é "muito marcada por um pensamento de esquerda" e tem a marca de um programa político. "Uma gestão social, ligada à habitação popular, transporte popular, cooperativas", exemplifica.
Ao mesmo tempo, continua Fonseca, a ex-prefeita polariza a campanha. "Dados os reposicionamentos partidários, ela coloca a candidatura de Serra como cada vez mais conservadora", diz ele. A melhor delineação dos dois campos, em sua opinião, atrairá mais militantes. "Esse movimento traz pessoas mais convictas de um governo à esquerda, ante uma grande desaprovação do governo Kassab."
Outro movimento notado por Nunes é uma aproximação com um setor da Igreja, o movimento da teologia da libertação. "O que implica que tem braço disso nas periferias, universidades, inúmeras associações e conselhos profissionais", lista ele. Além disso, segundo o cientista político, Erundina tem apelo junto a lideranças médias. "O que ela sinaliza é que essas lideranças tenderiam a aderir com mais ênfase à campanha."
Na campanha
O fraco desempenho apresentado por Haddad na última pesquisa do Ibope (sétimo lugar, com 3% das intenções de voto) também não deve assustar. "Embora as pesquisas neste momento atribuam 3% ao Haddad, não diria que é atribuição de voto, é muito mais o grau de conhecimento dos candidatos", diz Fonseca, segundo quem o PT tem tradicionalmente um eleitorado de 30% na capital paulista.
"O desconhecimento não é uma desvantagem", analisa Edison Nunes, "uma vez que 90% do espaço dos jornais destinado às manifestações de poder tratam de casos de corrupção. O nome desconhecido tem a grande vantagem de não gerar ódios". Segundo o professor da PUC-SP, até outubro, o candidato desconhecido tem pouca rejeição e muito espaço para crescer. "A questão é saber se passa dos 30%."
O que ele destaca, porém, é um problema a longo prazo: o isolamento do PT em São Paulo. "O arco de alianças do PT é estreito e certamente será muito diferente do que governará em caso de vitória", diz Nunes. "Haddad não deve ter maioria na Câmara e, no Brasil, se você não consegue alianças, não consegue governar. Agora, dependendo da campanha, tudo pode acontecer."
***FRANCIS DE MELLO***
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