PE: trio de canibais é indiciado por terceira morte.
O delegado Paulo Berenguer falou nesta terça-feira sobre o caso dos canibais
Foto: Celso Calheiros /Especial para Terra
Foto: Celso Calheiros /Especial para Terra
O delegado Paulo Berenguer, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), anunciou nesta terça-feira a conclusão dos inquéritos relativos às mortes cometidas por Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, Isabel Cristina Pires da Silveira e Bruna Oliveira. Berenguer foi o responsável pela investigação do assassinato da adolescente Jéssica Camila da Silva, 17 anos, ocorrido em Olinda, possivelmente em 26 de maio de 2008. Os três foram presos em Garanhuns, a 230 km do Recife, e ficaram conhecidos por matarem com premeditação, além de cortar os corpos das vítimas, praticarem canibalismo e ocultação de cadáveres.
Os três também respondem por dois assassinatos em Garanhuns e são investigados por outro crime na cidade de Conde (PB). Durante o trabalho de campo da polícia, o delegado descobriu outras três pessoas, vivas, que estavam sendo sondadas pelo grupo e poderiam se tornar suas vítimas. Berenguer disse que o modo de agir do grupo era sempre o mesmo: oferta de emprego, convite para entrevista em casa, onde a vítima era atacada por Jorge Beltrão, faixa preta de caratê. A morte era por um golpe na veia jugular, que fica no pescoço. No dia seguinte o corpo era desmembrado e, no outro dia, eles comiam partes da vítima.
A conclusão dos inquéritos foi anunciada hoje com o fim da investigação e coleta de provas para o assassinato da adolescente Jéssica, mãe da menina de cinco anos que era cuidada como filha de Jorge e Bruna. Quando a mãe foi morta, a criança tinha um ano e sete meses. Bruna utilizou a certidão de nascimento de Jéssica para assumir a identidade da vítima e, em seguida, registrar a menina.
De acordo com Paulo Berenguer, Jéssica foi morta também porque Jorge queria ter uma filha. Ele tentou por oito anos de relação com Isabel Cristina, mas nunca conseguiram. Depois de matar e esquartejar Jéssica, o grupo grelhou parte de suas carnes e serviu para todos, inclusive a criança. O canibalismo ocorreu em todos os assassinatos e a carne foi servida para a menina nas três vezes.
Os restos de Jéssica foram enterrados, primeiro, e descartados no lixo poucas semanas depois, quando os três decidiram vender a casa e mudar de endereço para Conde, a 17 km de João Pessoa (PB). A Polícia Civil, com a indicação de Jorge e Isabel Cristina, ainda encontrou pequenos ossos da clavícula e da omoplata enterrados na sala da casa, além de ossos menores, das falanges, dentro de tijolos.
Os restos de Jéssica foram analisados de diferentes formas pelo Instituto de Criminalística da Polícia Civil. Houve dificuldade em se retirar o DNA, porque os ossos curtos oferecem dificuldades suplementares para esse exame, disse a perita. Mesmo assim, a comparação do DNA da vítima com o elemento orgânico do pai de Jéssica chegou a 99,99% de certeza.
Um livro escrito e ilustrado por Jorge Beltrão, Revelações de um esquizofrênico, serviu como fonte de pistas para a polícia. O delegado procurou entender as informações escritas ou desenhadas por Jorge para depois interrogá-lo para obter mais elementos. Na apresentação feita para a imprensa, mostrou páginas com um rosto e representações semelhantes aos fantasmas dos desenhos animados. Jorge Beltrão disse para o delegado que o rosto era de Jéssica indo para o céu e os fantasmas eram os espíritos malignos, os umbrais, que não seguiram a vítima.
A motivação, de acordo com o inquérito, é uma seita criada de forma fictícia pelo grupo chamada de "o cartel". A seita ordenava homicídio de pessoas com uma história de vida considerada impura. Eles queriam o controle populacional e precisavam de quatro vítimas mulheres, uma para cada elemento da natureza.
Além dos três crimes feitos em Pernambuco, o grupo é investigado pela Polícia Civil da Paraíba. Outros crimes, de menor potencial, foram cometidos, em especial a falsidade ideológica, vilipêndio e ocultação de cadáver. Jorge Beltrão respondeu pela morte de um rapaz em 1994, mas foi considerado inocente por falta de provas.
***FRANCIS DE MELLO***
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