segunda-feira, 1 de outubro de 2012

"O EMPRESÁRIO CHAIM ZAHER, MORADOR DE RIBEIRÃO PRETO-SP; VENDE SUAS EMPRESAS POR R$ 600 MILHÕES PARA FAZER NOVOS INVESTIMENTOS; ENQUANTO QUE SEUS FUNCIONÁRIOS ACHAVAM QUE ELE SE APOSENTARIA!"



Conheça o empresário que vendeu seu negócio por R$ 600 milhões e criou uma empresa maior.





















Celio Messias/AECelio Messias/AE
Com 83 mil alunos, empresa voltou a fazer aquisições






 "Com mais de R$ 600 milhões no bolso, certeza que o patrão vai se mudar para Miami ou viajar o mundo com a mulher e as filhas..." O burburinho tomou conta dos corredores do grupo SEB na semana do dia 22 de julho de 2010, quando o "patrão" Chaim Zaher vendeu para os ingleses da Pearson seu negócio mais rentável - as marcas de ensino COC, Dom Bosco, Pueri Domus e Name - e fechou o capital do grupo.


Os gringos levaram a editora, o material didático e todo o sistema que vinha no pacote, desde o desenvolvimento das apostilas até o treinamento dos professores. Zaher ficou apenas com as escolas físicas. E entre seus funcionários ninguém colocou fé que o empresário - com dinheiro para sustentar cinco gerações, como ele mesmo diz - voltaria para a rotina escolar.
A boataria foi desfeita logo nos primeiros dias. Zaher reuniu 600 funcionários no teatro da faculdade, em Ribeirão Preto, onde fica a sede da empresa, e começou seu discurso com uma frase que ele achava simpática e que, um dia, pretendia usar: "Back to the game". "Dizem que essa é a origem da sigla BTG", explica, referindo-se ao banco de investimentos de André Esteves. Passados dois anos da afirmação, Chaim Zaher está mesmo de volta ao jogo.
Com faturamento de R$ 500 milhões e lucro operacional de R$ 100 milhões, o SEB já é maior do que era antes das marcas de material didático serem vendidas para a Pearson, uma das maiores companhias de educação do mundo, dona do Financial Times e da revista The Economist. Nos últimos dois anos, o empresário investiu cerca de 40% do dinheiro que recebeu dos ingleses nas escolas de ensino básico, faculdades e nos polos de ensino a distância que ficaram com ele. Comprou um cursinho em Belo Horizonte, onde também acabou de inaugurar uma escola bilíngue; ampliou o colégio de Salvador e adquiriu um prédio para abrir mais uma unidade em Curitiba. O próximo passo é expandir o colégio para o Rio de Janeiro e Recife.
Os 150 polos de ensino a distância espalhados pelo País também ganharam mais alunos, atraídos pelos tablets que passaram a ser oferecidos gratuitamente aos estudantes na hora da matrícula. Há dois meses, Zaher comprou a Escola Paulista de Direito e o cursinho jurídico Marcato - ambos com potencial para crescer no ensino a distância.
O dono do SEB não está sozinho na nova empreitada. Ele conseguiu resgatar dos quadros da Pearson quatro de seus principais executivos que tinham ido para a multinacional em 2010 como parte do pacote. Nilson Curti, há 25 anos funcionário de Zaher, chegou a assumir a presidência da Pearson no Brasil, com a intenção de ficar três anos. Mas pouco depois de completar 12 meses já estava de volta ao cargo de diretor superintendente do SEB.
O executivo de tecnologia Gustavo Hubaide voltou para ser sócio de Zaher em um novo negócio: os dois começaram este ano a produzir tablets em Ribeirão Preto. A fábrica já está em operação e até dezembro deve entregar o primeiro lote, de 16 mil aparelhos, que serão estreados por alunos do SEB.
As escolas e universidades do grupo já oferecem os dispositivos móveis para metade de seus estudantes, mas Chaim Zaher não estava satisfeito com o desempenho dos aparelhos feitos por terceiros. Por isso, desenvolveu e patenteou um tablet próprio para ser usado em educação. A bateria do aparelho, por exemplo, pode ser carregada numa carteira escolar eletrônica, durante a aula - engenhoca que também foi desenvolvida por ele. "A ideia é que o produto seja oferecido até para concorrentes", diz Hubaide. "É um novo negócio para o Chaim, como foram os sistemas de ensino."
Crescimento. O investimento dos últimos dois anos fez o número de alunos do SEB passar de 70 mil para 83 mil. "Estou trabalhando mais do que trabalhava antes de vender o COC", diz o empresário. "Como fiquei com o patinho feito do negócio, que são as escolas de ensino básico, tive de voltar para a linha de frente com tudo e fazer a operação ficar mais rentável."
Ele comanda as escolas junto com a mulher, Adriana, e com duas das três filhas. A mesa de trabalho é grande, com cinco cadeiras, para abrigar a família em torno dela. Na parede do escritório, está um quadro de mais de dois metros de altura do antigo time de basquete do COC, que até pouco tempo dividia espaço com uma foto de Zaher ao lado do cantor Roberto Carlos, de quem é fã incondicional. Um parênteses: todo dia 19 de abril, o empresário promove uma festa em Ribeirão Preto para comemorar o aniversário do Rei.
Quando não está viajando, Zaher faz questão de bater ponto nos colégios de Ribeirão, onde tem três escolas modelo, um centro universitário, uma emissora de TV e duas rádios. "Às 6 horas da manhã ele já está fazendo a ronda", diz José Blundi, diretor de uma das escolas. "Participa da reunião dos professores, checa horários de aula, quer saber por que um funcionário faltou."
Cedinho, Zaher se posiciona ao lado da catraca para acompanhar a entrada dos alunos, como fazia na década de 60, quando ainda era bedel em um pequeno colégio de Araçatuba, no interior de São Paulo. Formado em Direito e Pedagogia, o dono do SEB começou a empreender no setor seguindo os rastros de um dos maiores empresários da educação do País, João Carlos Di Gênio, dono da Unip e do Objetivo.
Para se tornar um dos franqueados da rede de pré-vestibulares, na década de 70, Zaher fez de tudo. Depois de semanas tentando marcar uma reunião com o responsável pelo Objetivo de Araçatuba, ele dormiu no banheiro da escola para, no dia seguinte, abordar o diretor sem que ele tivesse para onde correr.
A noite mal dormida no banheiro rendeu a Zaher a administração de várias franquias do Objetivo no interior. Mais tarde, em 1986, quando Di Gênio decidiu tomar de volta a administração do cursinho de Ribeirão Preto, Zaher abandonou a parceria e comprou de um grupo de estudantes de medicina o pré-vestibular Curso Oswaldo Cruz. Em suas mãos, o COC virou uma potência.
À distância. Em 2007, com 20 mil alunos próprios e 186 mil estudantes parceiros (que usavam o material didático do COC), o Zaher decidiu buscar investimento para expandir o que achava mais promissor no segmento de educação: o ensino à distância.
"Ele enxergou cinco anos atrás um movimento que ganhou força no ano passado", diz o economista Paulo Guedes, presidente do grupo financeiro BR Investimentos e um dos responsáveis pela abertura de capital da empresa em julho de 2007. "Tive de ir a Ribeirão Preto convencer a mulher dele e as filhas de que o IPO era a melhor opção para financiar os projetos de expansão." Com a família inteira convencida, o empresário teve de mudar o nome do grupo para SEB (Sistema Educacional Brasileiro), já que COC soaria mal entre os investidores estrangeiros.
Só que a cobrança do mercado de capitais por resultados de curto prazo fez o empresário se distanciar do projeto inicial, dizem consultores do setor. O SEB passou a basear seu crescimento na aquisição de novos sistemas de ensino, como o Dom Bosco de Curitiba. "A empresa cresceu nesse segmento mas ficou para trás no ensino a distância", diz um concorrente.
Em 2010, quando o SEB vendeu seus sistemas de ensino e fechou o capital da empresa, o mercado de educação privada no País estava em pleno processo de consolidação. O grupo Abril comprou o sistema de ensino Anglo. No ano seguinte, as redes Anhanguera, Kroton e Estácio de Sá fizeram as maiores aquisições da história do setor. No fim do ano passado, a Kroton comprou duas grandes instituições de ensino a distância e tem hoje mais de 270 mil alunos nessa modalidade (seis vezes mais que o SEB).
Com competidores tão poderosos, Chaim Zaher não descarta a possibilidade de voltar ao mercado de capitais daqui a dois anos. Mas por enquanto, quer continuar tocando a empresa sem o compromisso dos relatórios trimestrais e a cobrança de investidores ávidos por retorno. Parece que, em breve, o empresário terá onde usar de novo o "back to the game".








***FRANCIS DE MELLO***

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